Proles


Proles

                As vezes ando observando as meninas sentadas em seus portões, pelos caminhos que faço nessas ruas aparentemente quietas e um pouco escuras. Não é incomum essas meninas estarem acompanhadas de meninos que deveriam ser seus irmãos. Mas não são. São seus filhos, ou crias, não sei ao certo. E nessas vezes me ando perguntando, será que elas amam? Ou será que elas só se entregam? Será que de tanto amar elas se entregam? Será que quem não sabe amar sou eu? Já tentei olhar fundo nos olhos de algumas delas, mas não encontro alma alguma. É como se elas apenas estivessem ali. Sentadas. Sem passado, sem futuro e ausentes do próprio presente. Nessas vezes penso que elas só nasceram para fazer outros nascerem da mesma maneira que elas, sem passado, futuro, presente, nutrição, consciência e alma. Nessas vezes pergunto como Deus permite tal escárnio com a vida, como pode alguém nascer só para fazer outro nascer para fazer outro nascer para fazer outro nascer... ad infinitum. É como se a vida se desse a qualquer um, ou será que ela escolhe alguns poucos para dar?
                Coisas que nem o tempo responderá.

3 comentários:

  1. A vida é um presente. Perfeito e livre. O que fazer com ela é sempre escolha. Nossa escolha. Ou escolha que outros fizeram por nós.

    Alguns, infelizmente se perdem no círculo de "para fazer outro nascer para fazer outro nascer outro nascer".

    O desafio talvez seja este mesmo. Continuarmos amando. Ou tentar continuar amando. Tão difícil num mundo onde amor virou tudo, menos amor de fato.

    O que sei é que não sei como lidar com isso.
    Como tantos assim são. Como tantos assim vivem.
    Se é que vivem. Se é que vivo.

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  2. Só complementando com o poeta: "Tem certos dias em que penso em minha gente, e sinto assim todo meu peito se apertar..."

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