Proles


Proles

                As vezes ando observando as meninas sentadas em seus portões, pelos caminhos que faço nessas ruas aparentemente quietas e um pouco escuras. Não é incomum essas meninas estarem acompanhadas de meninos que deveriam ser seus irmãos. Mas não são. São seus filhos, ou crias, não sei ao certo. E nessas vezes me ando perguntando, será que elas amam? Ou será que elas só se entregam? Será que de tanto amar elas se entregam? Será que quem não sabe amar sou eu? Já tentei olhar fundo nos olhos de algumas delas, mas não encontro alma alguma. É como se elas apenas estivessem ali. Sentadas. Sem passado, sem futuro e ausentes do próprio presente. Nessas vezes penso que elas só nasceram para fazer outros nascerem da mesma maneira que elas, sem passado, futuro, presente, nutrição, consciência e alma. Nessas vezes pergunto como Deus permite tal escárnio com a vida, como pode alguém nascer só para fazer outro nascer para fazer outro nascer para fazer outro nascer... ad infinitum. É como se a vida se desse a qualquer um, ou será que ela escolhe alguns poucos para dar?
                Coisas que nem o tempo responderá.

Uma pressa só!

Sabe o que é?
A vida passa
E passa de pressa,
Mas numa pressa que não é nossa.
Uma pressa da vida mesmo.
Como se ela quisesse sair de nós.
Como se não soubéssemos estar com ela.
De fato, não sabemos.
De fato nos matamos um pouco cada dia.
Deve ser por isso, a pressa da vida.
Esquecemos como se cuida dela.
Deixamos que ela cuide de nós.
E ela não cuida.
Ela vai embora.

Mas sabe o que é?
Se, cuidamos da vida
Não vivemos,
Então a vida fica
E nós não.
Se não cuidamos da vida
Vivemos
Então a vida vai
E nós não.

É um caso a se pensar.
Talvez eu vire vegetariana.
Mentira.