Poema de encontro

As manhãs são escuras e nubladas. Além de frias.
Eu gosto das manhãs assim.
Me identifico com que parece comigo.
Talvez por não me compreender, me apego ao que pode ser parte de mim.
Não sei.
Não sei o que pode ser parte de mim.
Eu não me entendo.
Por isso me escrevo,
Porque talvez assim entenda uma linha de mim.

Entendo um ponto no mundo.
Não entendo nem o que escrevo.
A que era pertenço?
Que estilo me contém?
Sou disforme e redondilha.
Sou neoclássico e barroco.
Sou humana e muitas em uma só.
Talvez seja poeta.
Ou nada.
Talvez uma ilusão. E efêmera.
Talvez o mundo.
 – “Mundo mundo vasto mundo,
Mais vasto é meu coração”.
Me disse um gauche.
Mais vasta é minha alma.
Maior é meu sentir.

Na verdade sou simples,
Mas vejo beleza no indagar-se,
No expandir-se, no explorar-se.
Até perceber-se em milhões de eus
Tão simples em suas unicidades
E tão complexos em seus todos.
O belo é estranho.

Ônibus

Preciso dizer para vocês que eu odeio ônibus, eu odeio também esperar, então eu odeio esperar ônibus. Devo contar que odeio o ônibus, e que também odeio fila, logo eu odeio fila pra entrar no ônibus. Eu posso jurar que odeio ônibus, e que detesto calor, e é assim que eu odeio o calor do ônibus. Mas eu já disse pra vocês que eu odeio ônibus? Pois é, eu também odeio lugar lotado, e por isso eu odeio ônibus lotado. Olha minha gente eu odeio ônibus e enrrolação, e isso faz com que eu odeie a aversão a caminhos rápidos que todo ônibus possui.

Eu não odeio só ônibus, eu odeio muitas coisas, mas é que o ônibus é o único que consegue reunir em si tantas coisas que eu odeio, acho que por isso volto minha predileção de ódio para ele. Juro que não é nada pessoal.